sábado, 24 de dezembro de 2011
Evolução inteligente?
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
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Alan Watts
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
sábado, 17 de dezembro de 2011
Pensar dói
Hoje ouvi uma coisa que me entristeceu profundamente. Numa roda de amigos, conversávamos sobre banalidades quando, por alguma razão, entramos em um assunto mais profundo. A coisa ia indo, evidente que nossas opiniões eram meros palpites sobre a questão (o qual não me recordo), quando aconteceu um silêncio constrangedor.
"Quem sabe não falamos sobre uma coisa que não precise pensar tanto? Esse assunto está me dando dor de cabeça."
No momento que a garota falou aquilo, era como se um ferro em brasa tivesse quimado minha pele. Sinto parte da ferida até agora.
O fato de um assunto, por ser muito complexo, não ser digno de atenção, implica em muitos comportamentos e visões de mundo. Afinal, por que razão, ou melhor, o que eu ganho em procurar entender por que existo? O sentido da vida? Por que existe tudo ao contrário de nada?
Dor de cabeça. Preguiça mental. Impotência vista de frente, nossas limitações tão claras que sua mera visão causa calafrios em nossas espinhas. Ao invés de eu abstrair e dividir visões de mundo, é mais fácil aproveitar para dar piteco no corriqueiro e banal (talvez porque não há visões a serem compartilhadas?).
Olho ao lado e vejo indivíduos falando com entusiasmo sobre carros e seus diversos modelos. A ênfase e energia posta nessa discussão é maravilhosamente contagiante, pois cada um tem tanto interesse por defender seu modelo predileto como aprender com o outro vantagens de se ter um motor 2.0 ou um automóvel da Fiat.
As trivialidades são e sempre foram a primazia por serem facilmente compreendidas.
As novelas pintam as discussões de um chá da tarde. Quem vai ficar com quem e como foi cada experiência provocam uma classe de sentimentos irresistíveis. Assistir a filmes de comédia é quase uma obrigação em dias que "não há nada para se fazer".
Não é mais fácil tagalerar e emitir julgamentos sobre coisas palpáveis? Por que digredir sobre um livro que me faz pensar? (Caso haja "motivo" para ler tal classe de livro) Criar um senso crítico sendo que ele não me beneficiará a curto pazo??? Não. Não quero ser um cara "chato" que só quer falar sobre coisas entediantes e difíceis.
Evidentemente, isso gera um ciclo vicioso. Mas ninguém escapa de se defrontar com uma situação que se descobre complexa. Nesses casos, simplesmente emite-se opiniões de senso comum que não levam a nada. O que restringe ainda mais tratar de assuntos como esse com conhecimento de causa. E gera certo ódio e confusão tanto por não se entender o que se está discorrendo como por não estar a par da argumentação. É, quando o feijão com arroz não bastar, talvez só uma aspirina mesmo...
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Retratos
Música:
Retratos – Rudy Rafael
Eu vejo chuva no deserto do teu sorriso
Eu sinto cores esperando o teu castigo
Aquele retrato que você não tirou
Aquele sonho abstrato que você desenhou
São palavras…
Palavras sem sentido e sem cor
Você já tem o seu café na cama
E o seu quarto cheira a alecrim
Não tema, garota, vai ser sempre assim
Retratos parados no tempo
A vida sem sabor
Do que vale a vida sem o Amor?
Não há mais tempo, o relógio dos teus dias já parou
Uma mentira escondida como a chuva que secou
A mensagem errada para quem não viu
Uma imagem forçada de quem nunca existiu
São retratos…
E retratos nunca provam um Amor
Você já tem o seu café na cama
E o seu quarto cheira a alecrim
Não tema, garota, vai ser sempre assim
Retratos parados no tempo
A vida sem sabor
Do que vale a vida sem o Amor?
Você já tem o seu café na cama
E o seu quarto cheira a alecrim
Não tema, garota, vai ser sempre assim
Retratos parados no tempo
A vida sem sabor
Do que vale a vida sem o Amor?
Do que vale a vida sem o Amor?
Retratos nunca provam um Amor
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Pele
Depois de anos, suas peles haviam colado e ficara difícil de separar. Doía, sempre, que constantemente um ou outro forçava de ir para um lado contrário. Tentaram, inclusive, entrepassar uma faca; provaram de morfina, e ao que passava o efeito a dor voltava. Foi caso, de outrora, terem escondido um ao outro sob a roupa, a evitar constrangimentos. Chegou uma hora e não houve jeito, procuraram um médico. Disse o médico que a solução seria simples: anestesia geral, bisturi, e repouso. Hesitaram, de susto, ao que parecia simples e resolvível como nunca fora antes. Concordaram, por fim, e de resto só houve silêncio. Silêncio pelos dias que se arrastaram, por horas, por minutos, até que o médico adentrou a sala de cirurgia e o anestesista veio logo atrás. Deitados, se entreolharam, como uma despedida.
Acordaram horas depois sobre camas separadas. Pareceu sonho, em si, quando ele, ao abrir os olhos, encarou o teto hospitalar pálido e moveu o braço esquerdo, solto, leve, e sentiu a roupa de cama, sozinho. Virou o corpo; deitar de lado, enfim, não o fazia há muito, e nisso fitara o outro canto do quarto, e ela estava lá, virada de costas. Pensou em chamá-la, e não veio a voz. Uma enfermeira entrou no quarto e correu a cortina por entre as camas; disse-lhes que descansassem; receberiam alta na manhã seguinte.
Ele não dormira bem, e nem o café o animara; perturbava-lhe, sobretudo, a mórbida inércia do quarto. Foi que levantou, pela primeira vez, livre da outra metade. Leve, como uma pluma, caminhou até a janela, de onde vinha uma brisa fina da manhã. Ela já não estava mais no quarto; tinham a levado para um outro, dissera a enfermeira. Debruçou-se sobre o parapeito da janela, a percorrer os olhos sobre lá fora: as pessoas pareciam pesadas como nunca, em sua maioria, vinham rompendo o ar das calçadas, ao trabalho, a um encontro; angústia, nos passos, e ele apenas oco, tão leve que mal podia caminhar convicto, dar passos humanos sob ação da gravidade. E ao que seria fácil se deixar carregar pelo vento, fechou a janela; precisava deixar o hospital. Vestiu-se e desceu as escadas; procurava aprender o próprio peso, e não aprendia.
Entrou em um táxi, e pelo caminho as ruas e casas não mais tinham humor, nem verso; a vida como nunca deveria ter sido e agora estava sendo; a ausência injusta de um corpo, um corpo, que mais parecia ter sugado todo seu sangue. Ao que transpassaria um corpo estranho ao lado do próprio, sentiria um empurrão e não haveria músculo para o apreço do abraço; a pele alheia, seu grande vício, extinta; a alma sua, com os últimos meses, que passara a sorrir entrecortada, e no carinho, na ponta dos dedos bem havia um refúgio, nunca uma paz; a ânsia por liberdade, sem saber que quaisquer das coisas que a tangiam passavam pela terrível ideia de decisão, poder escolher o que se queria, ao que não há mais a paixão efêmera a guiá-lo.
Diante da mais urgente necessidade de percepção, logo a frente, estático, áspero, duro, estava o amor, o amor, o próprio, o amor não dito, não desenhado, não musicado, o amor, amor dos amores que escreveram a história e implodiram nos seres as mais veementes vontades. O amor estava claro, ao que não era mais pele, mas um vazio tocável; saía, líquido, pela cicatriz, do antebraço ao banco do carro. Chegou em casa, flutuando. Discou o número, em desespero; chamou uma vez e ela atendeu, sufocada, no cair de uma lágrima.
Arthur Wilkens