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domingo, 25 de agosto de 2013

Realidade ou Sonho? (Primeira Parte)




Você está dormindo ou acordado?
Começo esta publicação com a pergunta bastante simples, como a faria Morfeu, do filme The Matrix, para perturbar as vidas dos muitos poucos escolhidos a despertar da realidade artificial em que vivem. A ideia deste post, hoje, é refletir acerca dos limites de um sonho e traçar paralelos entre Matrix, Budismo e Psicologia (aqui em especial, envolvendo desejo, capitalismo e singularidades); com um quê de duvida sobre a realidade digno de se chamar “teoria da conspiração”.

                           

 Àqueles que não conhecem o filme Matrix (devem urgentemente assistir após ler o post), darei uma breve palhinha: Neo é um hacker da computação que um dia é chamado para uma conversa num chat com um usuário chamado Morfeu, que lhe faz perguntas desacomodantes acerca da realidade que ele vive ser artificial. A partir daí, Neo envolve-se com este homem e o último lhe dá a chance de conhecer a verdade sobre a ilusão que vive, ao oferecer uma pílula vermelha que o acordaria e  ver o que está no fundo da toca do coelho (uma clara alusão à Alice no País das Maravilhas). Ao tomar a pílula, Neo descobre, numa experiência bizarra de despertar, que todos os seres humanos dormem profundamente e são controlados por máquinas, estas se utilizando da energia humana para permanecerem ativas, pois a humanidade foi a única fonte de energia restante após uma briga entre os humanos e as máquinas que escaparam do seu controle. A briga de Neo é, portanto, em prol da humanidade: ele descobre ter sido o escolhido a dar um fim a batalha que existe entre os humanos despertos (e, portanto, exilados) e as máquinas que desejam o extermínio destes. Quase tudo, entretanto, se passa dentro da Matrix, esse software desenvolvido para simular a realidade.





A história de Neo nos remete muito à do príncipe Sidarta. Sidarta era um nobre que viveu na Índia antiga, alguns séculos antes de cristo. Quando ele nasceu, um sábio brâmane fez uma profecia baseada no seu mapa astral: ou o garoto se tornaria um grandioso rei ou ele seria um sábio asceta, vivendo exilado de seus afazeres reais. Seu pai, temendo muito pela continuação do trono e pela própria vida do filho, foi instruído a jamais mostrar nenhum tipo de sofrimento ao garoto (até que ele fosse mais velho) e assim fazê-lo viver numa doce ilusão. Acontece que, quando o príncipe tinha lá seus 17 anos, ele voltava de uma cavalgada com seu amigo e servo Channa (instruído de só mostrar coisas belas ao príncipe) e encontrou um velho que gemia de dor. Sem saber o que aquilo significava, Sidarta ficou profundamente abalado por aquela visão e o pensamento não o deixava em paz. Ele saiu mais outras vezes para ver o que havia lá fora e descobriu também a velhice, e o fato de que todas as pessoas um dia ficarão daquela forma, até finalmente morrerem. Isso fez com que Sidarta tivesse uma urgente vontade de entender a raiz desse sofrimento, e por isso ele acabou exilando-se – durante um estranho dia em que todos no palácio dormiam - como um asceta, e assim foi em busca de uma resposta para suas indagações.




Sidarta, tal como Neo, acabou entendendo que nada daquilo que experienciamos é de fato real. Na sua compreensão, tudo estava fadado a impermanência, a mudanças. E a origem do nosso sofrimento, portanto é em última análise o apego ao eu. Pois mesmo esse eu não existe, é ilusório. E dele decorrem todas as emoções perturbadoras que então nos fazer apegarmos às aparências e procurar algo de estável onde não existe estabilidade. Assim, Sidarta chegou à iluminação e tornou-se um Buda, que significa “aquele que está desperto”. Podemos perceber, aqui, a própria Matrix como sendo uma metáfora para essa vida-de-sonho que todos vivemos; bem como alguns outros elementos que mais tarde relacionarei.     




Então eu volto a perguntar: você está acordado? Como você sabe que não está dormindo? Como pode saber se dorme ou não, pois, quando sonha durante a noite, jamais percebe que está dormindo? E será que você beneficia alguém quando está assim, dormindo profundamente e se crê desperto?

Gabriel

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Vertigem

Ele segurava a minha mão para que atravessássemos a rua, o semáforo na outra calçada indicava um pedestre sem pernas. Que fosse de um vandalismo barato cometido à meia-noite do reveillon, o taxista acelerava já quando contava um segundo para o semáforo ficar verde. Acontecia sempre que eu encarava os automóveis durante um segundo como se de dentro deles surgisse um rosto conhecido: já não andava agarrada à minha bolsa que, já tendo adquirido um tom desbotado desde que a ganhara de meu ex-namorado, competia no movimento incerto entre meus braços e minhas pernas. Por um segundo constatei o movimento de um homem obeso retirando o cinto e abrindo a porta do carro. Marina, ele gritou sob um grande reflexo solar e se aproximou com passos errantes. O corpo de uma modelo esbelta era oferecido através de um grande outdoor, que indicava uma marca nunca antes vista de roupas íntimas. Por um segundo imaginei ter tido a epifania perfeita ao perceber que aquele grande homem emanava seu falo retorcido através do zíper aberto, cambaleante, mas era apenas um jogo de ilusão: senti o gosto e a textura do pneu de uma moto que rasgou minha perna esquerda em duas partes. Os outros veículos aceleraram todos juntos, excitados, quando o semáforo se tornou verde. O homem obeso se esticou sobre mim, arrancando meu sutiã, suspirou alguma coisa com um bafo horrendo e os carros nos comprimiram contra o asfalto quente.


Arthur Wilkens