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segunda-feira, 4 de julho de 2011

04/07/1983

''Se me disseres que chegarás pelas quatro, desde às três já serei feliz.'' Só que por enquanto ainda é cinco, e tu provavelmente chegarás pelas oito, e já estou sentindo-me feliz.
Gosto muito de escrever-te, porque sei que assim consigo alegrar-te e para mim, nada mais deixa-me tão feliz do que vê-lo contente. Acho que a felicidade é ter-te feliz.
Falando de outras coisas, estou dando aula para uma classe especial hoje. Horrível! Não param. Dá vontade de sair correndo pela porta. Trabalhar com crianças não é fácil. A gente precisa ser um bocado otimista, achar que dias melhores virão. Ainda assim, a gente se apega demais a estes pequenos e quando eles se vão, sinto que poderia ter dedicado-me mais a eles.
Contigo, às vezes sinto o mesmo. Acho que não te recebi como mereces na quarta-feira passada. Acho que ainda não aprendi a dedicar-te todo o meu amor. Mas isso tem uma explicação: Ele é tão grande e profundo, e nunca se entregou totalmente a alguém.
Outra vez os alunos me interrompem e o meu pensamento é cortado.
Gostaria de escrever-te mais, porém já é hora de sair. Graças a Deus.

Um beijo, da sempre tua, Marta.

Arthur

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Desdobramento

A vida, por ser ela mesma, tem uma antítese natural. Indago muitas vezes como podemos nos deixar levar por coisas que entristeçam nossos corações sabendo que temos um período muito curto de existência. Dialogo com este meu fantasma, ele tem sua face escondida com a capa azul do céu. Ele não quer refletir sobre assuntos mais transcendentais, quer fazer dos seus vícios sua máxima de ouro. De repente vejo outro amigo, mera manifestação sobrenatural da vivência frente ao alheio. Este é mais bondoso, mas seus dogmas são difíceis de convencer. Nenhum dos dois quer que eu me levante, entretanto.
O divã é estreito para nos três, mas não importa, desde que aquela discussão perdure por toda eternidade.
Meus entes são mudos. Eu converso usando um tipo de retórica visual, mas suas aparências não denunciam nenhuma mudança. O que faz possível o monólogo são as perguntas que eles apresentam aos meus olhos, e a minha sala já não é mais um limite espacial.
É uma viagem entre coisas que nem sabia ser possível existir. Mundos e formas são apresentados, cada qual contendo um argumento para me convencer qual dos dois escolher. Não quero nada. Mando-os se retirarem. Grito e esperneio. Sob a pele esquálida da segunda sobrevida, sinto um olhar esperançoso, um raio quente da cor vermelho-alaranjado, fazendo as coisas a minha volta desaparecerem.
A luz ofuscante do raio vai sumindo, e percebo que estou mais uma vez -e desta vez para sempre- só.

Gabriel Engelman

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Hora de Escrever

Hora de escrever. O corpo amortecido pela cadeira, a nuca então repousa sobre o encosto e ele fixa o olhar no teto. Um mosquito, dois, mais ao lado, um pequeno lustre, quatro lâmpadas, uma queimada; então são três. Fecha os olhos rapidamente e cai em escuridão. As três lâmpadas continuam lá, menos brilhantes, elas dançam sobre um colorido inexplicável. Não as quer ver, aperta os olhos, a escuridão não existe mais. São luzes, ele pensa, de onde vem? São pequenas luzinhas, como estrelas congeladas pelo universo, e ele abre os olhos. São quatro, quatro lâmpadas, mas uma está apagada. Agora ele descansa os braços estendidos que seguravam a caneta, os solta sobre a barriga, observa, cruza, arregaça a manga do pijama listrado. Alguma ideia há de vir, qualquer coisa que não seja o conto que ele nunca consegue por no papel. Qualquer coisa, ele pensa, segura a caneta e a aponta em direção a qualquer lugar: o relógio. Não, tenta mais uma vez: a garrafa de azeite. Péssimo, agora tem de dar certo: a janela. Ele olha, olha, e nada vê, mas sabe que deve haver alguma coisa. Ele se concentra, "vamos", a caneta. Hora de escrever.


Arthur Wilkens

terça-feira, 5 de outubro de 2010

A vida nos venceu.

Sinto agora o quanto minha mente arde ao tentar atropelar todas as nossas coisas de uma vez só, enquanto percebo em ti nestes últimos dias, que de fato são os nossos últimos, a fria indiferença que por tua parte nunca existiu. No telefone já nem reconheço a pessoa com quem dividia a minha vida há alguns meses; cara a cara, intensamente ainda sinto a tua assistência, o teu corpo, o cheiro nas tuas roupas e..., é tudo idêntico à antes, intacto, como eu sempre fui acostumado a ter. Eu espero ter um tempo pra ti esquecer. E enquanto escrevo, sinto como se uma nuvem que aperta o meu peito voasse vagarosamente para fora... não tão longe, logo ali perto, aonde sei que a reencontro quando o vazio me consome outra vez. Eu sei que nenhuma palavra minha vai fazer juz ao que hoje perambula aí por dentro. Percebes agora que tudo acabou? A partir de agora eu encaro, velha amiga, vou engolindo até que o prato se acabe. A vida nos venceu.




Arthur Wilkens

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Prosa Noturna

Mais um tempo se passa. Desses que voltam uma vez lá que outra... A tarde era fria, sem muito barulho pra incomodar. O sol, o jardim, o quarto, a sala, o piano, as partituras, a casa. Uma tarde digna de férias bem aproveitadas. A noite cai e me traz um presente, o silêncio absoluto. Nessa tal serenidade onde se pode perceber as minuciosidades da vida, o cérebro daqueles acanhados que não saíram pra rua acendem como um lampião. Quem me ouve? Quem me questiona? Apenas minha própria essência. E mais ou menos no meio da madrugada o sono interrompe um filme na TV. Desligo as luzes, subo as escadas, entro no quarto e fecho a porta. Ali, de uma fresta na janela me atinge uma luz laranja. Vem lá do poste. Resolvo ir na sacada. De meia no chão, meus pés esfriam, mas era bom sentir aquela atmosfera noturna... Foi quando tive os olhos fisgados a distância. Alguém caminhava próximo à faixa, sem direção, com passinhos pesados. E tinha a cabeça coberta. O que fazia? Um sujeito estagnado no asfalto. E iluminado pelos postes, no meio do escuro, como a chama de uma vela. Nunca fui de ver assombração, mas o indivíduo ali isolado me fez contemplar a cena por uns trinta segundos, quando um carro parou em sua frente sem fazer ruído algum. Não se moveu; uma porta do veículo se abriu, enquanto eu esperava ter mais um personagem em cena. O sujeito mancou até o carro e entrou, fechou a porta e o carro partiu para fora do meu campo de vista.


Arthur Wilkens

sexta-feira, 23 de abril de 2010

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Soltas e mudas, incertas, solúveis, distintas, algumas bonitas, imundas, astutas. Desertas, fechadas, abertas, lentas e rápidas, soltas e mudas. Espertas, ativas, passivas, miúdas, sólidas, poucas, mutáveis. Ágeis, tranquilas, inteiras, soltas e mudas, soltas e mudas.

Arthur