Vniversale descrittione di tvtta la terra conoscivta fin qvi

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Desdobramento

A vida, por ser ela mesma, tem uma antítese natural. Indago muitas vezes como podemos nos deixar levar por coisas que entristeçam nossos corações sabendo que temos um período muito curto de existência. Dialogo com este meu fantasma, ele tem sua face escondida com a capa azul do céu. Ele não quer refletir sobre assuntos mais transcendentais, quer fazer dos seus vícios sua máxima de ouro. De repente vejo outro amigo, mera manifestação sobrenatural da vivência frente ao alheio. Este é mais bondoso, mas seus dogmas são difíceis de convencer. Nenhum dos dois quer que eu me levante, entretanto.
O divã é estreito para nos três, mas não importa, desde que aquela discussão perdure por toda eternidade.
Meus entes são mudos. Eu converso usando um tipo de retórica visual, mas suas aparências não denunciam nenhuma mudança. O que faz possível o monólogo são as perguntas que eles apresentam aos meus olhos, e a minha sala já não é mais um limite espacial.
É uma viagem entre coisas que nem sabia ser possível existir. Mundos e formas são apresentados, cada qual contendo um argumento para me convencer qual dos dois escolher. Não quero nada. Mando-os se retirarem. Grito e esperneio. Sob a pele esquálida da segunda sobrevida, sinto um olhar esperançoso, um raio quente da cor vermelho-alaranjado, fazendo as coisas a minha volta desaparecerem.
A luz ofuscante do raio vai sumindo, e percebo que estou mais uma vez -e desta vez para sempre- só.

Gabriel Engelman

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