Seu nome ele achava engraçado. Na escola era motivo de chacota:"Onde está Julieta, ó Romeu?" Riam-se seus amigos. Ele bem sabia que era uma brincadeira, mas estranhamente saia desamparado: "onde está a Julieta?" pensava. Nunca sentira amor, por isso desconfiava da existência do mesmo. Aí que certo dia, Romeu bateu seus olhos em alguém. Sorriso aberto, olhos claros como o céu e a sensação de uma tremenda paz quando perto. Romeu criou uma grande amizade com essa pessoa, até que certo dia aconteceu: enamoraram-se. O problema? Só o nome: Miguel. Sim, Romeu achara sua paixão, não numa doce mulher, mas sim num igual: um homem. A reprovação foi intensa: amigos, família, Romeu parecia agora personagem de uma digna tragédia. O pior, era que após o ato final, a peça de fato não foi de agradoaos pais de Miguel, que de romancistas nada tinham. O dia era chuvoso. Tão úmido quanto a facede Romeu, que sentia também uma tempestade por dentro, A despedida seria rápida, "não quero ninguém pensando que meu filho é... diferente." assim dizia a mãe de Miguel. O pior era que, além de não querer ir, seus pais estavam demorando para chegar. Decidiu-se: iria à pé se necessário. Com a capa de chuva na cabeça, seguiu seu rumo contra a chuva cada vez mais rápido: apertava o passo. "Eles precisam estar lá ainda" era o que dizia a si mesmo. Quando chegou no local, ou melhor, antes de chegar, notou algo estranho; uma ambulância lá havia. Um carro batido, que logo reconheceu como seu. Correu ao encontro, e tirando seu sufoco, lá estavam seus pais. "Chorando? Está tudo bem agora" disse enquanto dava um forte abraço nos dois. Aí que, pela cara da sua mãe (e não era seus cabelos curtos com algum sangue que o encomodava) percebeu que algo não ia bem. Atrás dela, sinalizara outro carro, quase que irreconhecível, tamanho o estrago. "Mamãe? Estas pessoas se feriram muito?"em troca, apenas soluços. Foi correndo até o carro, enquanto egoísta, pensava: "Não creio que não cheguei a..." E lá estava; mesmos olhos azuis como espelhos do céu e sob uma paz quase divina. O irônico era o sorriso torto que mal pode se abrir quando viu quem chegava. A cena pareceu durar horas, não, décadas, e o movimento final dos lábios foi claro, afiado e sem som ao mesmo tempo: "Aqui estou eu, Romeu".
Um comentário:
não entendi
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