Quando a torneira foi parada para secar a louça, percebi algo estranho: aparentemente, caía algum tipo de poeira, talvez cinzas, do apartamento de cima. Com uma curiosidade movida pela inércia do momento, empurrei a janela de maneira que se abrisse. O engraçado, todavia, não era a clareza da poeira, mas sim sua frescura. Com um olhar mais apurado sobre aquela estranha substância, percebi que ela derretia. A partir disso, era como se um motor velho fosse depois de muito tempo, acionado. O calor que sentia por dentro nada tinha a ver com a água que antes esquentara minhas mãos. Faíscas de prazer cintilavam nos meus olhos. Era o sentimento do novo, a excitação que quebra nossas rotinas, assim como um parente muito querido que bate à porta, fazendo uma calorosa e inesperada visita.
No andar de cima, Matias não via a hora de terminar de esvaziar o modesto freezer daquela antiga geladeira. Era tão velha quanto difícil de tirar os cubos de gelo, que quando removidos à força criavam uma consideravel camada de gelo fino, e, se não limpa, cairia no chão podendo até causar algum acidente. O copo de whisky jazia sobre a mesa com seus dois cubos, quebrando a uniformidade do vermelho alaranjado, assim como sinalizando que a bebida estava pronta para aquecer quem, naquela rigorosa tarde de inverno, a bebesse.
-gabriel
Um comentário:
gostei do clima. bem escrito =)
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