A viagem para o Canadá, que lhes parecera um álibi, já carregava um mês e meio e a falta de alguma coisa que não os diálogos superficiais em inglês e a bonita familiaridade que a neve trazia dos filmes começava a perturbar.
Conheceram-se no hall do hotel, e a partir dali tudo pareceu explodir e encher de sentido. Nas tardes seguintes, viam graça em entrar nos cafés; pediam um capuccino e ficavam se olhando, e ele pensava que os olhos dela pareciam dois grandes planetas.
Todo o vocabulário que haviam adquirido para expressar o tédio e a monotonia perdera seu uso; as horas nada significavam, e as nuvens lhes lembravam os abraços e o céu noturno lhes trazia saudade.
A última semana foi debulhada num deleite tristonho; o voo de volta numa esperança inconformada e as noites em casa em desespero e estaticidade. Viviam a cinco mil quilômetros um do outro.
Foram-lhes precisas duas semanas para que esboçar um e-mail ao outro resultasse na consciência de que nenhuma palavra a mais precisava ser dita.
Arthur Wilkens
4 comentários:
Falando francamente, eu li mais uma vez o teu texto e não gostei muito da finalização. Na verdade achei a coisa toda pouco pormenorizada, parece por si só um esboço. Mas o fim, especialmente o fim, parece um artifício do qual tu te utilizaste para deixar o leitor com uma cara alegre e com sensação de final feliz. Mas veja bem, o final não faz muito sentido: eles estavam sempre com saudade e pensando um no outro quando depois de - apenas - duas semanas eles perceberam que nada mais precisava ser dito. Isso é tanto inverossímil como bobo, por que ok, talvez os dois entenderam que a saudade é mútua, mas o que muda isso do contato?
Perdoem me por me extender demais
Gabriel, não entendo porque ele te parece um esboço e eu não teria por que tentar justificar o que se passa dentro da cabeça dos personagens para que as pessoas pudessem interpretá-los. isso seria qualquer coisa que não uma prática literária. enquanto este desfecho te pareceu sem sentido e artificioso, com o intuito de fazer o leitor sorrir, outras pessoas me disseram que o acharam muito triste. já eu, talvez não veja nem felicidade nem tristeza. escrevi este conto em poucos minutos, durante uma viagem de ônibus, e não tive tempo de pensar em artifícios, pois ele me é muito natural. se o conto não te convenceu em diversos sentidos, acredito que o problema seja apenas uma desavença estética.
Eu não entendi o texto, mas me lembra o estilo do livro ''O Filho Eterno''.
Qual o problema de duas semanas? Isso é bastante ou é pouco?
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